quarta-feira, 19 de novembro de 2025

O microfone da Ignorância!

 Viana Visão 

Nos últimos anos, as redes sociais transformaram qualquer pessoa em “especialista” da noite para o dia. Basta ter uma câmera na mão, alguns seguidores e uma opinião forte. A autoridade deixou de vir da experiência, da formação ou da vivência agora vem do alcance. É a consagração do microfone da ignorância.

Enquanto alguns tentam contribuir de forma honesta, muitos se aproveitam da falta de filtros, espalhando receitas perigosas, conselhos financeiros arriscados, teorias sem fundamento e até diagnósticos médicos inventados. Informações complexas são reduzidas a vídeos de poucos segundos, e o que deveria ser conhecimento vira entretenimento.

A decisão veio de Pequim, a China desligaria o microfone da ignorância. Em sua política de disciplinar o caos digital, determinou que ninguém mais poderia falar de medicina, finanças, direito ou educação nas redes sociais sem comprovar que realmente entendia do que dizia. Não bastava eloquência; era preciso formação. Não bastava virilizar; era necessário ser competente.

O anúncio dividiu opiniões. Para uns, era censura. Para outros, um alívio. Pequim respondia com frieza: não estava restringindo a liberdade, mas regulando o delírio. E, nesse ponto, havia uma verdade difícil de ignorar. A China não age por impulso; age por diagnóstico. E desta vez, o diagnóstico também era mundial: as redes sociais deram palco, luz e plateia à ignorância organizada.

Nos últimos anos, não faltaram tragédias encenadas. Médicos imaginários ensinando curas milagrosas. Analistas financeiros improvisados prometendo riquezas instantâneas. Mestres espirituais manufaturados oferecendo revelações pagas. Um teatro onde a autoridade não nasce do estudo, mas da câmera de um celular! Autor: Viana Visão

Reflexões

E é nesse cenário que o Brasil aparece como um caso de estudo ou de espanto. Temos dois milhões de influenciadores e catorze milhões de criadores de conteúdo. É quase um país dentro de outro, um continente digital crescendo 67% em apenas um ano. A maioria é jovem, fotogênica, articulada. Mas apenas 9% vivem realmente do que produzem. O restante sobrevive entre promessas, ilusões e algoritmos. Uma multidão confiante que confunde visibilidade com conhecimento, audiência com autoridade, likes com currículo.

Entre esses milhões, floresce uma vitrine perigosa. Gente ensinando a investir em esquemas duvidosos, a tratar doenças graves com soluções caseiras, a controlar a mente alheia por técnicas rápidas, a educar sem pedagogia, a falar de lei sem ter lido sequer a Constituição. E no rastro dessa economia da influência, surgem escândalos: influenciadores presos por lavagem de dinheiro, outros investigados por explorar crianças, outros por golpes que devastaram famílias inteiras.

No Brasil, diploma virou detalhe. O que manda é o algoritmo. E o algoritmo, essa força invisível que rege a vida digital, não tem compromisso moral. Ele favorece o barulho, não o saber; a polêmica, não a prudência; o risco, não a responsabilidade. Criou-se uma era em que a ignorância performática rende lucro, status e prestígio.

Enquanto a China fecha portas ao improviso e exige certificação, nós abrimos janelas, portões e portais. Seguimos confiando que a liberdade irrestrita resolverá sozinho o caos que ela mesma gerou. Seguimos acreditando na manipulação, da mentira e da imprudência. Estamos acelerando, a questão é apenas para onde.

Se a China age por diagnóstico, talvez seja hora de olharmos para o nosso. Porque, neste lado do mundo, o abismo digital já deixou de ser metáfora. Tornou-se endereço! Autor: Viana Visão

2 comentários:

  1. Texto de relevância, o país precisa de medidas sérias neste contexto.

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  2. Obrigado por seu comentário, estamos atentos as necessidades de mudanças positivas!

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