Viana Visão
Nos últimos anos, as
redes sociais transformaram qualquer pessoa em “especialista” da noite para o
dia. Basta ter uma câmera na mão, alguns seguidores e uma opinião forte. A
autoridade deixou de vir da experiência, da formação ou da vivência agora vem
do alcance. É a consagração do microfone da ignorância.
Enquanto alguns tentam
contribuir de forma honesta, muitos se aproveitam da falta de filtros,
espalhando receitas perigosas, conselhos financeiros arriscados, teorias sem
fundamento e até diagnósticos médicos inventados. Informações complexas são
reduzidas a vídeos de poucos segundos, e o que deveria ser conhecimento vira
entretenimento.
A decisão veio de
Pequim, a China desligaria o microfone da ignorância. Em sua política de
disciplinar o caos digital, determinou que ninguém mais poderia falar de
medicina, finanças, direito ou educação nas redes sociais sem comprovar que
realmente entendia do que dizia. Não bastava eloquência; era preciso formação.
Não bastava virilizar; era necessário ser competente.
O anúncio dividiu
opiniões. Para uns, era censura. Para outros, um alívio. Pequim respondia com
frieza: não estava restringindo a liberdade, mas regulando o delírio. E, nesse
ponto, havia uma verdade difícil de ignorar. A China não age por impulso; age
por diagnóstico. E desta vez, o diagnóstico também era mundial: as redes
sociais deram palco, luz e plateia à ignorância organizada.
Nos últimos anos, não
faltaram tragédias encenadas. Médicos imaginários ensinando curas milagrosas.
Analistas financeiros improvisados prometendo riquezas instantâneas. Mestres
espirituais manufaturados oferecendo revelações pagas. Um teatro onde a
autoridade não nasce do estudo, mas da câmera de um celular! Autor: Viana Visão
Reflexões
E é nesse cenário que o
Brasil aparece como um caso de estudo ou de espanto. Temos dois milhões de
influenciadores e catorze milhões de criadores de conteúdo. É quase um país
dentro de outro, um continente digital crescendo 67% em apenas um ano. A
maioria é jovem, fotogênica, articulada. Mas apenas 9% vivem realmente do que
produzem. O restante sobrevive entre promessas, ilusões e algoritmos. Uma
multidão confiante que confunde visibilidade com conhecimento, audiência com autoridade,
likes com currículo.
Entre esses milhões,
floresce uma vitrine perigosa. Gente ensinando a investir em esquemas
duvidosos, a tratar doenças graves com soluções caseiras, a controlar a mente
alheia por técnicas rápidas, a educar sem pedagogia, a falar de lei sem ter
lido sequer a Constituição. E no rastro dessa economia da influência, surgem
escândalos: influenciadores presos por lavagem de dinheiro, outros investigados
por explorar crianças, outros por golpes que devastaram famílias inteiras.
No Brasil, diploma
virou detalhe. O que manda é o algoritmo. E o algoritmo, essa força invisível
que rege a vida digital, não tem compromisso moral. Ele favorece o barulho, não
o saber; a polêmica, não a prudência; o risco, não a responsabilidade. Criou-se
uma era em que a ignorância performática rende lucro, status e prestígio.
Enquanto a China fecha
portas ao improviso e exige certificação, nós abrimos janelas, portões e
portais. Seguimos confiando que a liberdade irrestrita resolverá sozinho o caos
que ela mesma gerou. Seguimos acreditando na manipulação, da mentira e da
imprudência. Estamos acelerando, a questão é apenas para onde.
Se a China age por
diagnóstico, talvez seja hora de olharmos para o nosso. Porque, neste lado do
mundo, o abismo digital já deixou de ser metáfora. Tornou-se endereço! Autor: Viana Visão
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